Wednesday, April 19, 2006

Um projeto para o Piauí

Publicado no Diário do Povo, dia 16 de abril de 2006

O Piauí se ressente de um projeto que o leve a alguma parte.
A frase não é nova. Tampouco está desatualizada. Os governos que se sucedem não conseguem levar a cabo um plano de ação que gere uma trilha de fortalecimento econômico e social capaz de seguir em frente independente do humor (e interesses) do governo seguinte; um caminho que faça o Estado andar sozinho.
Se olhamos para a evolução econômica do Piauí, veremos que o PIB sempre está associado a fatores como o desempenho da economia nacional ou as bênçãos de São Pedro: no ano que o inverno é bom, o Piauí colhe bons frutos; quando não, o PIB reclama fôlego. Fora isso, o Estado tem se apegado fundamentalmente ao desempenho de Teresina – a grande locomotiva, por fortuna com um rumo administrativo – e dos cerrados, que cresceram por iniciativa individual dos produtores e de alguns raros prefeitos conscientes da importância da produção de grãos no sul piauiense.
Fora isso, não há um rumo que se destaque como um projeto de desenvolvimento do Estado – e quando falo de desenvolvimento, não dissocio o econômico do social; são irmãos siameses: sem um o outro não tem sentido.
Potencial o Piauí tem muito, ainda que não se possa desconsiderar a necessidade de grandes investimentos em infra-estrutura, e isso é um problema inclusive para o mais preparado e melhor intencionado dos governantes. Mas o problema maior parece ter sido a falta da boa intenção, o pelo menos da boa visão do que pode vir a ser essa terra Filha do Sol do Equador. Não vou sequer falar da fruticultura, do turismo ou da agroindústria que muito bem pode dar ares novos a regiões interioranas, entre elas o sempre castigado semi-árido. Fiquemos com o caso de Teresina, onde (além do comércio) dois campos de atividades são especialmente poderosos, ambos na área de serviços: a saúde e a educação.
A saúde é uma das fortalezas da cidade, atraindo pacientes de outros estados (pacientes que às vezes sugam nossos recursos, mas que sobretudo geram muitas oportunidades e fazem de nossa cidade um dos três pólos nordestinos). Esse cluster cresceu nos últimos anos especialmente pela ação dos governos municipais e do apoio do Banco Nordeste. É amplo o reconhecimento da capacidade do setor médico-hospitalar de nossa cidade.
E esse mesmo setor ajuda a fortalecer a outra pilastra dessa diretriz de desenvolvimento de Teresina, a educação. Basta notar que hoje a cidade conta com três cursos de Medicina (UFPI, Uespi e Novafapi), enquanto Fortaleza tem dois. Isto não é por acaso.
Teresina conta com excelentes hospitais públicos e privados, com elevada capacidade de resolutividade em áreas tão diversas como câncer, queimados, doenças tropicais, em níveis acima de cidades bem maiores. Teresina conta também com excelentes cursos superiores, em instituições públicas e privadas. Na área de saúde, investimentos associados foram sendo estimulados, como os hotéis situados na região de concentração dos hospitais; ou os edifícios de escritório voltados para consultórios e clínicas.
Falta mais na área educacional. Por exemplo, estímulo à construção de pequenos apartamentos que abriguem os estudantes que chegam de outros estados; ou fortalecimento de um pólo gerador e (sobretudo) disseminador de novos conhecimentos (isto é, tecnologia) que produzam amplos benefícios à comunidade. Porque não pensar em Teresina como uma Campinas nordestina?
Quando tomo estes dois setores e o êxito relativo das ações no âmbito de Teresina é para reafirmar a necessidade de um plano amplo que se aproprie dos potenciais piauiense de forma geral e integrada, capaz de reproduzir o fenômeno teresinense em outras regiões do Estado. Inclusive porque não é mais admissível pensar um Estado que esteja focado num projeto tão centralizado, tão de costas para o interior.
Será inclusive muito positivo para Teresina que o Piauí tenha outros pólos econômicos fortes, capazes de oferecer a perspectiva de uma vida mais digna para quem vive fora da capital. Nesse – como em outros – campos o Piauí bem poderia olhar para o modelo de outros estados. Não vou nem me referir a São Paulo, com seus muitos pólos autônomos, uns focados na agricultura, outros na indústria, outros na produção de conhecimento ou na oferta de lazer. Bem podemos olhar para o Paraná, Santa Catarina, ou mesmo Paraíba e o Ceará da era tassista. Em cada um deles, buscou-se quebrar o absurdo desequilíbrio interno com a descentralização do desenvolvimento – que fortaleceu o interior e deu fôlego à capital.
Esse é um bom caminho para o Piauí. Mas um caminho que tem como primeiro passo uma idéia concreta dos muitos potenciais que o Estado tem, daí resultando em ações integradas que podem levar a bom porto.

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